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Como um pai ausente te afeta como adulta.

11 de janeiro de 2024

O que acontece quando um pai não estabelece vínculo algum com seus filhos?

O cérebro de uma criança é um ávido processador de estímulos, e no seu dia a dia precisa de estímulos positivos para poder crescer de forma madura e segura. Um pai ausente produz incongruências, vazios e dificuldades no contato com os outros. A criança espera carinho, comunicação e uma interação diária com a qual se abrir ao mundo também através do seu pai. Contudo, só encontra muralhas. Um trato vazio e esquivo gera ansiedade nas crianças, não sabem “a que se apegar”, desenvolvem expectativas que não se cumprem, e tendem além disso, a comparar “pais alheios” aos que eles têm em casa. Sabem que os pais dos seus amigos agem de modo diferente do seu.

Como podemos nos curar de um relacionamento que talvez nunca tenhamos?

O medo e ansiedade constantes, podem resultar do trauma de um pai ausente. A ferida do pai ausente pode se tornar um problema geracional e afetar tudo em nossas vidas, inclusivo os nossos relacionamentos íntimos. A chave para quebrar o ciclo de mágoa, mal-entendido e ausência física e/ou afetiva é reconhecer o que pertence ao presente – e o que pertence ao nosso passado. Ou seja, crescer e enxergar as próprias dores como adulto e não como a criança ferida.

Quando ousamos embarcar na jornada de cura, nos abrimos para fazer as pazes com nosso passado ferido. Somos capazes de aprofundar nossos relacionamentos atuais. E podemos criar um amor real e duradouro com nossas relações afetivas. O que nos feriu no passado, às vezes, nos da a oportunidade de crescer no futuro. A dor pelo pai ausente é a disfunção psicológica, relacional e física que faz um buraco em nossas almas

Imagine um buraco em nossas almas, na forma de nosso pai. Como isso afeta o que sinto por mim mesmo? Como isso afetaria minha capacidade de ter um bom relacionamento com alguém? Como isso afetaria minha autoestima? Minha saúde física? Muitos deles estão relacionados. Em nossa cultura, temos todas essas condições físicas e não vemos a conexão entre elas e o que aconteceu na infância. Por exemplo, a maioria das pessoas não diz: “Estou acima do peso porque não tive o amor de que precisava quando estava crescendo”. Achamos que temos um problema de dieta. Mas pode haver um buraco que nunca foi preenchido.

O que uma criança mais precisa em um pai?

Sua presença. Seu amor incondicional. Seu profundo e permanente cuidado por quem você é e como você. Assim como costumamos projetar muitas das nossas esperanças e sonhos em nossos cônjuges, também costumamos projetar muito disso em nossos filhos. Não vemos as crianças como elas são; nós os vemos como gostaríamos que fossem. O que as crianças precisam é ser vistas como são e ter uma presença amorosa em suas vidas para sempre. Você nunca supera esse desejo de ter essa presença em sua vida.

Se você é uma criança cujo pai é ausente, mas é muito próximo de um avô, tio ou amigo próximo da família, ainda assim, você sente essa ferida?

Isso definitivamente ajuda, mas não corrige não sara a ferida do pai ausente. Você não pode evitar o fato de que ainda haverá uma dúvida profunda sobre o que você perdeu numa convivência efetiva com o seu pai, e você precisa chegar a um entendimento do que ainda não foi curado. Ajuda ter outro suporte, mas você ainda precisa fazer algum trabalho de cura para lidar com a ausência integral de seu pai.

Como a ferida do pai ausente afeta mulheres e homens de maneira diferente?

Geralmente, as mulheres tendem a fazer mais a conexão entre o medo, a dor, a depressão e a perda que sentem em seus relacionamentos atuais, com as feridas do passado. Já os homens tendem a estar mais em contato com sua raiva. Grande parte dos homens não se ligam, de imediato, que a possível falta de simpatia ou empatia para com os relacionamentos afetivos, chegando ao ponto de se tornarem raivosos e controladores, são, na verdade, disfarces para a dor e o medo que sentem. E o oposto tende a ser verdadeiro para as mulheres. Às vezes, o medo e a dor são um disfarce para a raiva com a qual elas não lidaram no passado. Mas quando você entender isso, em vez de ficar apenas com raiva de seu cônjuge ou com medo de perdê-lo, você pode dizer: “Onde estava a raiva quando meu pai foi embora? Onde estavam a dor e o medo pelo pai que não estava comigo quando eu precisei dele?”.

O comportamento do pai ausente é transmitido de geração em geração? Como podemos evitar que esse padrão continue?

Quando você começar a tratar da ferida do pai ausente, quase sempre encontrará feridas que acompanham toda a família, geração após geração. Quando estamos em um relacionamento e sabemos que algo está errado, mas não sabemos o quê é, apenas fazemos o melhor que podemos para nos consertar ou consertar a outra pessoa. Mas então começamos a decifrar: não é só ele ou ela; tem a ver com nosso passado. De repente, podemos fazer essas conexões que nem sabíamos que existiam.
Podemos sim, ainda que inconscientes, transmitir nossos traumas aos nossos filhos.
Assim que você vê o caminho em sua vida, o medo inconsciente de passa-lo para seus filhos começa a diminuir. Depois de reconhecê-lo, você percebe que pode consertar isso. Você pode curar esse passado. Você pode trabalhar com as coisas de seu relacionamento atual. Você pode realmente curá-lo para sentir um amor real e duradouro e seus filhos crescerão com pais que estão presentes em suas vidas. E se você conseguir fazer isso enquanto o filho ainda está no ventre, ou quando ainda é criança pequena, é melhor ainda.

O que acontece se você não curar a ferida do pai?

A prática do distanciamento afetivo, a raiva sem causa justificável, a insegurança ou a dependência emocional, afastam a pessoa amada de nós. Queremos garantias extras de amor, afeto, compreensão, dedicação… da pessoa amada – mas ela nunca nos dá o suficiente. Então a pessoa amada sentirá que não importa o quanto ela nos dê, nunca será o bastante. É porque toda a nossa vida está estruturada na insegurança, na terrível sensação de abandono. E é essa insegurança, inconsciente, vinda do passado que nos leva a quase todos os problemas em nossos relacionamentos na vida adulta. Quase todas as brigas passionais, o sexo não ótimo, os mal-entendidos… vêm de questões não curadas do passado. Assim que soubermos disso, podemos nos tornar um pouco mais compreensivos e culpar muito menos a nós mesmos ou aos parceiros e ter muito mais interesse na cura.

Como a ferida da ausência paterna se manifesta na vida adulta?

Só se percebe quando há consciência. Isso porque o normal, o que se busca num relacionamento pode ser doentio. Sair da bolha de ilusão é abrir oportunidade para um novo olhar, e quem sabe, o que é de fato saudável.

Como iniciar seu caminho de cura?

O começo simples é saber que existe uma solução. É saber que alguém tem um roteiro do que é saudável. É a sensação de que há alguma esperança. A esperança é o primeiro passo. O segundo passo é o compromisso. E a coragem de reconhecer que, exatamente porque existe uma maneira de curar, precisamos nos comprometer com o processo de cura. A terceira etapa é o suporte. Vai ajudar ainda mais se você se conectar com alguém que já esteve lá antes, que já esteve no território e pode orientá-lo. E a quarta etapa: você tem que entender que isso é importante para você. Muitas pessoas desistem de relacionamentos. Quando você reconhece que não precisa desistir e que há uma maneira de superar isso, você precisa decidir se isso é importante para você. Porque é uma jornada.
Se você estivesse sentado aqui no meu escritório comigo, eu o levaria através de algumas das perguntas importantes, tais como: Como você sabe se as feridas de um pai distante ou ausente tiveram impacto em sua vida? E então, quais são as coisas que você mais teme na vida? Quais são as coisas com que você se preocupa à noite, quando não consegue dormir?

Ir a esses lugares profundos do inconsciente pode causar um pouco ansiedade. Então, faça de preferência um especialista em saúde mental, e com a pessoa amada, para que ela possa lhe tranquilizar quando estiver ansioso ou com medo.

Então faça isso quando estiver pronto.


✨As informações aqui descritas são para adultos e de caráter informativo, não substituem uma consulta médica. Os casos precisam ser individualizados para serem cuidados, norteando sobre como e porque isso está fazendo mal para sua saúde.

🗝A intenção aqui é entregar possibilidades e alertar sobre a raiz dos seus adoecimentos pessoais e familiares.

Dra. Ana Coutinho
Médica de Família
CRM-GO 12873 | RQE 8332