Um dia você idealizou que daria para o seu filho tudo o que você não teve na sua infância e juventude, e, por isso, luta muito financeiramente para que não lhe falte coisa alguma. Assim, você tenta barganhar a sua ausência afetiva, com presentes. Tentar barganhar a sua presença com um presente é um jeito covarde de ofender a inteligência emocional da criança. Entenda, é a sua presença que é um presente para a criança e não o contrário. Mesmo porque você não pode se esquecer de dar ao seu filho algo que, possivelmente, você também não teve: ‘tempo para estar junto’.
Do tempo que você passa com seus filhos, quanto tempo é de qualidade?
E importante compreender que ao presentear uma criança com seu tempo, você está lhe ofertando uma coisa que você nunca recupera. Com este gesto você diz que a ama, que a valoriza e que gosta muito de desfrutar da companhia dela.
Dedicar tempo às crianças não significa dar-lhes o celular, abrir um vídeo ou um jogo no tablet ou ligar a televisão no seu canal favorito. Tampouco, e auxiliar nas tarefas escolares, ou um beijo de boa noite, ou sentar-se para dar conselhos e repreensões. Dedicar tempo à criança é entender a diferença entre dedicar atenção obrigatória à ela e criar tempo livre para estar ela.
Quando você dedica tempo para estar com uma criança, ela descobre que você deu a ela algo que não se pode recuperar, ou seja, algo de muito valor que foi dedicado especialmente à ela. A infância é uma das etapas mais importantes da vida em que o tecido da nossa evolução está entrelaçado. Assim, as crianças estão imersas em milhares de mudanças que às vezes os adultos nem percebem e que, portanto, perdemos se não estivermos atentos.
Não explicar as coisas com calma pode levar a mal-entendidos. É preciso criar o clima para as crianças fazerem perguntas e dar tempo para que tudo seja arredondado e não haja franjas. Qualquer tema contado com calma e entusiasmo capta o interesse das crianças. Mas para isso, tem que viver. Tudo fica dentro de si se não tem tempo para tirá-lo.
Criação lenta, envelhecimento lento
Educar e compartilhar momentos “em fogo lento” significa respeitar seus ritmos, dando-lhes espaço para se desenvolverem, sem pular etapas, crescendo e evoluindo sem o estresse e a exigência que geramos em torno deles.
Essa perspectiva educacional é baseada na filosofia slow, que manifesta a necessidade de privilegiar um ritmo de vida mais calmo, promovendo assim a maturidade, a evolução e a criação de vínculos a partir da progressão natural da criança, sem pressa. Isto é conseguido apoiando a criança em cada passo, não forçando seus estágios evolutivos e oferecendo oxigênio psicológico à sua educação, esquecendo-se da marcação e impregnação de cada pequeno aprendizado, toda demonstração de afeto e a cada coleção de motivos.
Que a pressa não roube a magia da infância
A pressa é nossa pior conselheira. Ela é responsável por roubar os momentos mais preciosos e os mais maravilhosos detalhes da magia da infância. Agora, se pararmos para pensar, talvez possamos remediar isso.
Alguns pais substituem suas presenças por atribuições, encarregando os filhos de compromissos para preencher o tempo que eles não podem (ou não querem) dedicar, então inscrevem seus filhos nos mais variados cursos. Talvez nem se deem conta do que estão perdendo em não ver o passo a passo do crescimento dos filhos.
Deveres, arrumar a casa, tomar banho, futebol aos seis, aniversários às oito, jantar às dez … O dia todo a correr … e a galope. O que queremos alcançar com isso? Nossos filhos estão gostando? Estamos conscientes do que estamos perdendo e do que estamos fazendo com que eles percam? Provavelmente não. Devemos fazer o exercício de refletir se oferecemos tempo aos nossos filhos, se brincarmos com eles o suficiente e se organizarmos o seu dia a dia reservando momentos em que nos dedicamos exclusivamente a eles e a nós em conjunto.
- Se aproveite qualquer tempo livre que puder dispor, ainda que seja só alguns minutos.
- Não haja nesse instante a interferência da TV, Internet e qualquer outra forma de distração que atrapalhe esse momento.
- Se conte alguma coisa em “confidência”, fazendo assim com que a criança se sinta importante por ser detentor de um “segredo” do pai/mãe. Esse gesto faz com que se estreite mais os laços, aumentando a intimidade.
- Peça que ele lhe ensine algo novo que tenha aprendido na escola ou com algum amigo. Demonstre interesse em aprender.
- Ensine-lhe algo novo
Tudo isso são coisas que não demandam muito do nosso tempo se quisermos mesmo fazer. Mas é bom se programar para passar um tempo maior juntos.
Tudo isso são coisas que não demandam muito do nosso tempo se quisermos mesmo fazer. Mas é bom se programar para passar um tempo maior juntos. Não deixemos que a criação de nossos filhos seja marcada pela pressa ou maus hábitos que existem hoje. O melhor presente não é o centro de comando dos desenhos de moda ou os mais recentes bonecos da Disney. O melhor presente é compartilhar com eles o bem mais precioso que existe na vida e que nunca retorna: o tempo.
✨As informações aqui descritas são para adultos e de caráter informativo, não substituem uma consulta médica. Os casos precisam ser individualizados para serem cuidados, norteando sobre como e porque isso está fazendo mal para sua saúde.
🗝A intenção aqui é entregar possibilidades e alertar sobre a raiz dos seus adoecimentos pessoais e familiares.
Dra. Ana Coutinho
Médica de Família
CRM-GO 12873 | RQE 8332